quarta-feira, 24 de outubro de 2007

corte e costura

- pega a minha mão com cuidado. isso. com carinho, por favor. pode massagear um pouco. aperta. aperta mais. gostoso. aquele pontinho ali, sabe, aquele dolorido ali. ai!, esse. segura. nossa como dói. pode segurar. mais forte. é bom... segura. segura. até formigar. tá formigando... tá bom. você sabe estralar? os dedos. puxa, assim. aí. é, não estralou. tudo bem, se não estralou é porque não dava. agora deixa eu ver sua mão. que mão fria, a sua. tá tímido? ou ela é assim mesmo? muito bem. mão molhada. forte. dura. tão menino... você faz trabalhos manuais? pedreiro? ah, por isso. hum. eu gosto da sua mão. deixa eu beijar um pouquinho. esses calos bonitos. agora deixa eu colocar na minha nuca. assim. pode apertar. agora puxa, puxa. assim, que nem filhote de cachorro. gostoso, gostoso. sabe, eu fico tensa e vai tudo pra nuca. mas não agora, com você. é da vida sabe. filho, marido, trânsito. agora põe a mão aqui, ó. isso, isso, menino. põe as duas mãos, uma em cada. pode apertar. aperta. tá tímido? tímido nada, que eu tô vendo... opa, opa. calma, calma. tá com pressa? guarda esse negócio de volta. sou eu que digo o que você tem que fazer, certo? então você vai fazer tudo o que eu disser. não me beija. vem, querido, aperta mais. essa mão forte. esses calos. vai me deixar no ponto. tá me deixando. to sentindo. vê com a sua mão se eu já estou no ponto. só me diz. isso. tô? então agora tira. tira sua mão. olha, escuta. presta atenção. tá vendo aquele estilete?

aquele ali da cômoda. pega lá.

pegou? que cara é essa? traz aqui. põe a lâmina pra fora. pega minha mão. ah, sem timidez agora. shhh, quietinho, quietinho. não fala nada, que estraga. tá com medo? sem medo. depois te dou o que você quiser, o quanto você quiser. vamos, vamos, vou te ensinar. pega minha mão, abre com força, que nem massa de pão. ei, que isso? vai por a camisa? vai arregar? bem que eu desconfiei que você não era homem, mesmo. esse peito sem pêlo... ah, tá bravinho agora, é? quer me mostrar que é homem? então vem, querido. estou te pedindo. pega ali de volta, o estilete. põe a lâmina pra fora. pouquinho só, o suficiente, dois estágios. isso. pega minha mão. abre. não me olha assim, não tem nada de mais. seja generoso comigo. um cortinho. não tem problema nenhum. só vai me dar prazer. quer provar que é macho? quer?
então me fura.
fura ali no centro. que nem jesus cristo.

sem medo.

vai.

mas...

que porra é essa!

você me cortou?! não acredito... seu filho da puta! socorro, socorro! liga agora pra ambulância, já! cortinho de nada? eu to sangrando! eu vou chamar a polícia, você vai sair daqui preso, seu traste! algemado! você vai se arrepender muito, muito disso. meu marido é sargento do exército. vai acabar com a sua vida. vão acabar com você na cadeia, você vai ver! ainda mais sem pêlo no peito. vai virar mulher de bandido. olha, quanto sangue... você é louco, um louco! deve ter fugido do manicômio, não é possível. quê? eu sou a louca? mas você acabou de me cortar, seu retardado mental! me deixei enganar por um moleque... um delinquente, se aproveitou da minha bondade. agora quer roubar minha casa pra comprar droga, quer me matar, sei lá... vou ligar pro meu marido. falar que um moleque me agrediu. você vai ver. em um minuto vai ter uma viatura aí na frente. cadê meu celular... ei, peraí. onde você vai? vai pegar o estilete de novo? o que você vai fazer com ele? me fala...
ah, já sei. quer me machucar. quer me cortar, é? quer me furar de novo? não me olha assim. estou te pedindo. opa, opa. calma, calma. tá com pressa? seja generoso comigo. shhh, quietinho, quietinho. não tem problema nenhum. sou eu que digo o que você tem que fazer, certo? então você vai fazer tudo o que eu disser. depois te dou o que você quiser, o quanto você quiser. esses calos bonitos. tão menino... vem, querido. pega a minha outra mão com cuidado, por favor. abre que nem massa de pão. com força. com carinho. com cuidado. sem medo...