sábado, 27 de outubro de 2007

solitária

você já teve? aquela sensação ao acordar, de que o mundo está com as beiradas descoladas. de que a vida está desfocada. coca sem gás, pão de queijo velho, cerveja sem gelo: algo do tipo. teoricamente está tudo bem. mas algo nas veias te diz que não, não está tudo bem, nunca tudo está bem e nada está completamente bem em nenhum momento.
não sei se tem algo a ver com os sonhos indesejados, ou a metrópole, ou a simples falta de vontade, de vontade ponto, que às vezes, muitas vezes, dá. e o despertador não ajuda muito. nem quando você acorda com a rádio cultura. (que das seis ao meio-dia só deveria tocar mozart)
pois é; ando tendo isso, e eu sei o porquê. mas eu desligo o despertador, levanto, desço a escada -eu durmo no teto-, lavo o rosto, dou oi pra margot e soterro a sensação garganta abaixo com iogurte e granola, e ela fica lá, atrapalhando um pouco o trabalho do diafragma ao longo do dia, e então de noite, enquanto eu durmo, ela sobe para o cérebro sorrateiramente e faz truques de mágica com meu inconsciente, até que eu acorde novamente. que nem uma solitária.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

vazio


quero gritar e não posso. então, arrumo as malas.

corte e costura

- pega a minha mão com cuidado. isso. com carinho, por favor. pode massagear um pouco. aperta. aperta mais. gostoso. aquele pontinho ali, sabe, aquele dolorido ali. ai!, esse. segura. nossa como dói. pode segurar. mais forte. é bom... segura. segura. até formigar. tá formigando... tá bom. você sabe estralar? os dedos. puxa, assim. aí. é, não estralou. tudo bem, se não estralou é porque não dava. agora deixa eu ver sua mão. que mão fria, a sua. tá tímido? ou ela é assim mesmo? muito bem. mão molhada. forte. dura. tão menino... você faz trabalhos manuais? pedreiro? ah, por isso. hum. eu gosto da sua mão. deixa eu beijar um pouquinho. esses calos bonitos. agora deixa eu colocar na minha nuca. assim. pode apertar. agora puxa, puxa. assim, que nem filhote de cachorro. gostoso, gostoso. sabe, eu fico tensa e vai tudo pra nuca. mas não agora, com você. é da vida sabe. filho, marido, trânsito. agora põe a mão aqui, ó. isso, isso, menino. põe as duas mãos, uma em cada. pode apertar. aperta. tá tímido? tímido nada, que eu tô vendo... opa, opa. calma, calma. tá com pressa? guarda esse negócio de volta. sou eu que digo o que você tem que fazer, certo? então você vai fazer tudo o que eu disser. não me beija. vem, querido, aperta mais. essa mão forte. esses calos. vai me deixar no ponto. tá me deixando. to sentindo. vê com a sua mão se eu já estou no ponto. só me diz. isso. tô? então agora tira. tira sua mão. olha, escuta. presta atenção. tá vendo aquele estilete?

aquele ali da cômoda. pega lá.

pegou? que cara é essa? traz aqui. põe a lâmina pra fora. pega minha mão. ah, sem timidez agora. shhh, quietinho, quietinho. não fala nada, que estraga. tá com medo? sem medo. depois te dou o que você quiser, o quanto você quiser. vamos, vamos, vou te ensinar. pega minha mão, abre com força, que nem massa de pão. ei, que isso? vai por a camisa? vai arregar? bem que eu desconfiei que você não era homem, mesmo. esse peito sem pêlo... ah, tá bravinho agora, é? quer me mostrar que é homem? então vem, querido. estou te pedindo. pega ali de volta, o estilete. põe a lâmina pra fora. pouquinho só, o suficiente, dois estágios. isso. pega minha mão. abre. não me olha assim, não tem nada de mais. seja generoso comigo. um cortinho. não tem problema nenhum. só vai me dar prazer. quer provar que é macho? quer?
então me fura.
fura ali no centro. que nem jesus cristo.

sem medo.

vai.

mas...

que porra é essa!

você me cortou?! não acredito... seu filho da puta! socorro, socorro! liga agora pra ambulância, já! cortinho de nada? eu to sangrando! eu vou chamar a polícia, você vai sair daqui preso, seu traste! algemado! você vai se arrepender muito, muito disso. meu marido é sargento do exército. vai acabar com a sua vida. vão acabar com você na cadeia, você vai ver! ainda mais sem pêlo no peito. vai virar mulher de bandido. olha, quanto sangue... você é louco, um louco! deve ter fugido do manicômio, não é possível. quê? eu sou a louca? mas você acabou de me cortar, seu retardado mental! me deixei enganar por um moleque... um delinquente, se aproveitou da minha bondade. agora quer roubar minha casa pra comprar droga, quer me matar, sei lá... vou ligar pro meu marido. falar que um moleque me agrediu. você vai ver. em um minuto vai ter uma viatura aí na frente. cadê meu celular... ei, peraí. onde você vai? vai pegar o estilete de novo? o que você vai fazer com ele? me fala...
ah, já sei. quer me machucar. quer me cortar, é? quer me furar de novo? não me olha assim. estou te pedindo. opa, opa. calma, calma. tá com pressa? seja generoso comigo. shhh, quietinho, quietinho. não tem problema nenhum. sou eu que digo o que você tem que fazer, certo? então você vai fazer tudo o que eu disser. depois te dou o que você quiser, o quanto você quiser. esses calos bonitos. tão menino... vem, querido. pega a minha outra mão com cuidado, por favor. abre que nem massa de pão. com força. com carinho. com cuidado. sem medo...

terça-feira, 23 de outubro de 2007

pombas e biquinis

O Rio de Janeiro do século XXI é de uma beleza arrombada, terminal.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

peraí, vou explicar

sim, tenho três blogs. vou explicar:
um é sobre música.
outro é sobre as outras artes.
e outro é sobre as outras coisas. o resto. o que sobra no balaio, quando a gente tira a música e as artes da nossa vida. esse resto que na verdade é o recheio dos dias. o molho pardo.
pode ser um exagero ter três blogs, mas 1) é o que eu recebo em troca do controle total do google sobre a minha vida. então eu abuso que nem amostra de shampoo. 2) me ajuda a organizar melhor as idéias.
e você não precisa ler todos os meus blogs. você não precisa ler nenhum. você tem coisa melhor pra fazer. aliás, neste exato momento você deveria estar fazendo outra coisa. não é?
mas
eu sei: você é curioso(a).

domingo, 21 de outubro de 2007

sebo

Cheguei numa loja de antiguidades com meu sentimento debaixo do braço. Um senhor cheirando a guardado me deu bom dia entre seus bigodes, em meio a cupins e abat-jours. Joguei o sentimento na mesa e perguntei: interessa?
- Ih, minha filha, isso aí não tem valor, não. Todo mundo tem, compra em qualquer loja de bugiganga. Parece antiguidade mas na verdade é semi-novo, com cara de velho. Tem valor não. Guarde pra você.